sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Pedro Stiehl: “Sou uma amálgama de tudo que li, vi e vivi nestes 50 anos”

A intenção do repórter de um contato frente a frente foi dissolvida na resposta ao primeiro contato: “Estou indo viajar sábado pela manhã”, respondeu Pedro Stiehl ao e-mail. Mas completou: “Se me mandares as perguntas hoje respondo até amanhã”. Então a tecnologia fez a sua parte. Via Internet, as perguntas foram encaminhadas e respondidas no mesmo dia.
Abordando a obra do escritor montenegrino, autor de inúmeros livros de contos, poesia, romance e novelas juvenis, a entrevista mostra um homem que busca aprimorar ainda mais aquilo que para muitos já é ótimo: seu estilo. “Meu grande desejo. Meu objetivo. Fazer uma prosa tão lírica que pareça um poema”, almeja.
Ele fala ainda de suas influências, seus planos e do futuro do livro. A seguir, a entrevista na íntegra.


Pergunta: Em qual terreno te sentes mais à vontade: poesia, conto, romance ou crônica? Outro ainda?
Resposta: Difícil dizer. Depende da época, dos dramas, dos sonhos, dos objetivos, do que estou lendo. São muitas variáveis para uma só equação. Por exemplo: trabalho agora em duas pontas. Uma novela infanto-juvenil que trará como pano de fundo a visita do Médici a Montenegro em 1973. Ao mesmo tempo estou dando retoques finais no meu novo livro de poemas “O livro das fraquezas humanas”. A Cristiane Tain brinca comigo dizendo que é titulo de livro de auto-ajuda. Pode ser. Mas eu gosto. Tudo sem perder o foco da crônica que faço mensalmente para a revista Diversa e para meu site http://www.pedrostiehl.com.br/

Pergunta: Quais teus autores referenciais? É possível ver outros escritores na obra de Pedro Stiehl?
Resposta: Todos têm autores que os influenciam. É lei da vida. Tudo que fazemos parte do que já foi feito. Eu tenho até gosto que se perceba em minha escrita alguns escritores. Mas fica pretensioso dizer que este ou aquele são meus mentores, como se eu pudesse escrever como os mestres. Deixo isto como tarefa a quem de dispuser a descobrir. Mas não é importante. Se surgir naturalmente na mente do leitor “ah, aqui ó, mão do fulano” tudo bem. Não me importo. Sou uma amálgama de tudo que li, vi e vivi nestes 50 anos. Impossível que um ou outro fantasma não me tome a caneta de vez em quando.

Pergunta: Na análise de Oscar Bessi Filho sobre o livro Rapsódia em Berlim, ele elogia o lirismo que permeia as suas obras. Tua resposta foi: "É um dos aspectos de que mais gosto. Há muita prosa poética, o que, no futuro, pretendo que seja uma das características do meu estilo". Este futuro já chegou? Já há mais lirismo em teus escritos?
Resposta: Grande pergunta. Isso é o que considero hoje na minha vida de escritor a grande questão. Meu grande desejo. Meu objetivo. Fazer uma prosa tão lírica que pareça um poema. Considero que já tenho um ou outro paradigma que deponha a favor deste meu desejo. O conto “O diabinho e a sereia”, do livro Rapsódia em Berlim. A crônica que publiquei na revista do grupo Rua dos Cataventos e que também está no site: Eu, Ficção!e o miniconto publicado pela revista Magma de Lajes do Pico, nos Açores, a convite do escritor Luis Antonio de Assis Brasil e que também repliquei no site. A gente às vezes quer acreditar em certas coisas, ou precisa. Quero crer que nestes textos e em alguns outros cheguei perto desta qualidade. Mas, lógico, quem vai decidir se cheguei ou e em quais, será o futuro.

Pergunta: Poucos escritores conseguem escolher uma personagem como sua preferida. Pedro Stiehl é diferente? Consegue ter simpatia por alguma de suas criações?
Resposta: Tenho sim várias simpatias. As mulheres que narram o meu “Bárbaros no Paraíso” são admiráveis. Como disse Gabriel Garcia Marques, “são elas – as mulheres - que sustentam o mundo, enquanto que os homens o desordenam com sua brutalidade histórica’. Gosto da menina e do avô do conto “O diabinho e a sereia”. E o casal despojado que não se importam em lamber as feridas de sua relação no conto “Por um cristal partido”, também do livro Rapsódia em Berlim.

Pergunta: Alguma obra em andamento para lançamento futuro?
Resposta: Antecipei-me já a esta pergunta. Está lá na primeira resposta. A novela infanto-juvenil que trará como pano de fundo a visita do Médici a Montenegro em 1973 e o novo livro de poemas “O livro das fraquezas humanas”.

"Temos que ler... Para aprimorar, não o técnico que queremos ser, mas o humano que precisamos ser"


Pergunta: O escritor precisa de leitores. Como formar consumidores de letras? Qual melhor lugar para isto? Escola? Casa? Jornais? Revistas? Internet? Tudo junto?
Resposta: Não é uma resposta fácil de se dar. Há todo um debate nacional de especialistas a respeito. É certo que não há uma só resposta. É uma questão cultural, é uma questão histórica de país subdesenvolvido. Tudo isto. Além do fator financeiro, a influência de outras mídias mais assimiláveis, a falta de valorização do fato de se estar só, de se procurar o desenvolvimento do imaginário particular e não público. A casa e a escola são por si fatores de grande influência. Pais que não lêem e professores que não lêem são um desastre para uma criança. Leitura de acordo com a idade também é importante para pegar gosto. Acho, por fim, que leitura é interdisciplinar. Ou seja, para qualquer coisa que se queira na vida, é preciso ler. E ler ficção. E ler poesia. Para aprimorar, não o técnico que queremos ser, mas o humano que precisamos ser. De qualquer forma, conheço muita gente extremamente humana e inteligente e que não lêem praticamente nada. Quem explica?

Pergunta: Como tu vês o mercado literário hoje? Já é possível alguém sonhar em viver da Literatura? Porque o Livro ainda não é tratado como gênero de primeira necessidade no Brasil?
Resposta: Viver de Literatura? Só os caras! Um ou outro Dan Brown da vida. Quanto ao mercado, acredito que o livro, da forma como o conhecemos, este artefato de papel, está com os dias contados. A internet vai matar o livro. Mas não a Literatura. Os e-books vão ser o grande show da próxima década. O mercado literário vai ser teu livro em PDF sendo baixado em download por uns trocos. Os livreiros vão falir. É o fim do papel. Meu neto verá qualquer livro como objeto de museu. É no que acredito. E me preparo para isso. Meu site vai ter ainda este ano opção de download de algum livro meu. E no futuro bem próximo, não mais publicarei em papel. Como serão as feiras de livro? Como os alunos vão interagir com um escritor? Como os leitores vão criar Best-sellers? Não sei. Quero viver para ver.



Entrevista via e-mail a JB Cardoso

Um comentário:

  1. Excelente entrevista. Falas & Fatos e o JB estão de parabéns pela escolha do entrevistado, pelas perguntas, pela conteúdo. Fã do Pedro que sou, além de amigo pessoal, tenhos meus diferenciais em relação ao que declarou aqui, como em relação ao fim do livro de papel. Daria um belo debate, hein? E que venham as novas obras de Pedro!

    ResponderExcluir